A franquia Alien é uma das mais diferenciadas da história do Cinema: Muito além de trazer um alienígena com um design assustador, seus quatro filmes trouxeram uma visão diferente com a mudança na direção, e que nos trouxe ao menos duas obras-primas (no caso, os clássicos Alien – O 8º Passageiro e Aliens – O Resgate) que alçaram ainda mais seus diretores Ridley Scott e James Cameron e nos trouxe a tenente Ripley imortalizada por Sigourney Weaver. Uma pena que as continuações que vieram depois jamais alcançaram o patamar estabelecido nos dois clássicos (não gosto de Alien³, mas Alien: A Ressurreição é bem bacana). Também tivemos o divertido crossover Alien Vs. Predador (e sua fraca continuação) e o excelente prelúdio Prometheus, cuja boa continuação (mas ligeiramente decepcionante) tratou de deixar a franquia enterrada. Ao menos por algum tempo, e este Alien: Romulus supera as expectativas e resgata o que há de melhor na franquia, honrando os filmes clássicos e trazendo imenso frescor à franquia.
Trazendo um grupo de jovens que decidem saquear uma estação espacial, sem saber que encontrarão o assustador xenomorfo, Alien: Romulus surpreende ao expandir o universo da saga de forma até então inédita, usando do seu primeiro ato para apresentar seus personagens e seu universo, para aos poucos desestabilizar os personagens junto com o espectador. E se o roteiro acaba apostando em tipos batidos, ao menos o elenco defende muito bem seus personagens com o roteiro tentando trazer algum resquício de humanidade para não tornar seus personagens unidimensionais demais (nesse caso, merece destaque Cailee Spaeny, que honra bem as figuras femininas fortes da saga, enquanto David Jonsson traz uma atuação curiosa como um androide, por um lado remete à caricatura de um autista, ganhando uma surpreendente segurança que o torna imprevisível, fascinante e pragmático) e bem, não há como negar que já virou lugar comum que os personagens liberarão a criatura sem querer graças aos facehuggers, que dará início ao banho de sangue. Acelerando a história aos poucos e trazendo praticamente os principais elementos que marcaram cada filme da franquia, Alien: Romulus é um filme que conforme se desenrola, melhor ele fica, entregando o que se pode esperar de um filme de Alien e ainda mais um pouco, conseguindo ser um filme intenso e de tirar o fôlego.
E tendo Fede Alvarez na direção, Alien: Romulus comprova que aqui o diretor está em casa, já que a premissa da história é basicamente O Homem Nas Trevas no espaço e com o Alien, onde a casa do Homem Cego se torna a nave onde o Alien aparecerá para atacar suas possíveis vítimas. E o diretor (que também assina o roteiro) sabiamente esconde as cartas do filme, já que embora siga a estrutura básica de boa parte dos filmes da saga (um grupo preso dentro de algum lugar com o Alien), ele encontra imenso frescor ao referenciar e conectar praticamente todos os filmes da franquia (alguns de maneira surpreendente), seja através de diálogos e referências orgânicas (os visuais das naves remetem àqueles vistos no filme de 1979, enquanto o marcante som da metralhadora em Aliens – O Resgate é trazido de volta). E Alvarez ganha muitos pontos ao acelerar a história aos poucos, por abraçar o terror da história e usar da sua habilidade de sustentar a tensão ao conceber diversas sequências que exploram ao máximo as situações tensas que os personagens enfrentam (como a sequência do corredor), aproveitando também para trazer um visual plasticamente perfeito e ainda entregar sequências de ação criativas e diferenciadas para a franquia (e nesse aspecto, a sequência envolvendo gravidade zero com os Aliens é um espetáculo à parte), embora o uso de sustos falsos em uma ou outra cena acaba distraindo (como em um momento da sequência do corredor). E o filme surpreende em seu terceiro ato não só pela construção, mas por sustentar a história mais um pouco com uma insanidade corajosa que há tempos não se via na franquia, onde aposta na violência e no grotesco de suas criaturas (que é a essência da saga) para criar um clímax espetacular que faz jus à palavra.
Tecnicamente espetacular, Alien: Romulus traz um trabalho técnico que não deve em nada aos melhores da franquia, mais que isso, respeita as bases do que vimos antes: O design de produção fascina ao achar um caminho que evoque a tecnologia do clássico de 1979, mas trazendo novidades; A trilha sonora remete aos temas clássicos da saga enquanto traz alguma nova sonoridade (alguns dos temas não me agradaram totalmente em alguns momentos, mas no geral, é uma trilha climática e muito eficiente); A fotografia confere uma atmosfera claustrofóbica e pesada, mas também encontra alguma beleza nas espetaculares tomadas que vemos o espaço; O design de som confere peso e absoluta imersão (a sequência do corredor é excepcional no uso do silêncio e dos ruídos para criar tensão) e a maquiagem é excelente ao retratar as criaturas e as consequências gráficas da violência. Enquanto isso, os efeitos especiais estão excepcionais, não só na criação dos cenários digitais e das belas tomadas espaciais, mas especialmente no uso frequente de animatrônicos para trazer o xenomorfo à vida (ao contrário do que Ridley Scott fez no anterior ao apostar nos efeitos digitais para a criatura), e com isso, os Aliens jamais deixam de ser convincentes, e sentimos a nojeira, o peso e cada detalhe da articulação das criaturas (e a produção tem imenso orgulho disso já que são várias as sequências que vemos as criaturas de corpo inteiro ou em planos bem próximos da face da criatura), e o filme só desaponta um pouco no rosto digital de uma figura conhecida, onde os movimentos labiais entregam bastante a artificialidade (e o uso de tal figura poderia ter sido substituído por um novo personagem). E se possível, veja o filme em uma sala IMAX para uma experiência extremamente imersiva, onde somente nelas o filme tem quase 30% a mais de imagem que nas salas convencionais.
Deixando a porta aberta para explorar a franquia no futuro, é maravilhoso ir ver um filme que confesso, estava com expectativas apenas regulares, e que se revelou um filmaço incrivelmente bom, que entregou tudo e mais um pouco. Que ele seja de uma franquia clássica torna a surpresa ainda melhor.
Link no Blog: https://criticasdefilmes1.wordpress.com/2024/08/15/alien-romulus/
Gênero: Terror/Suspense/Ficção Científica
Duração: 119 Minutos
Distribuição: Disney
Direção: Fede Alvarez
Elenco: Cailee Spaeny, David Jonsson, Archie Renaux, Isabela Merced, Spike Fearn e Aileen Wu