O livro do profeta Habacuque é uma boa companhia para os dias sombrios que vivemos. O nome Habacuque significa “aquele que abraça”. É o que mais desejamos neste tempo de angústias e incertezas. Habacuque viveu numa época muito semelhante à que vivemos hoje e sua angústia é retratada nos primeiros versículos do livro:
“Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás? Por que me mostras a iniquidade e me fazes ver a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há contendas, e o litígio se suscita. Por esta causa, a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta, porque o perverso cerca o justo, a justiça é torcida” (Hc 1.2-4).
Temos aqui um homem perturbado com o que está acontecendo com seu povo. Ele vê a injustiça crescendo, o mal prevalecendo, os mandamentos de Deus sendo ignorados. Aqueles que deveriam colocar tudo isso em ordem não estavam cumprindo seu papel. Os tribunais e os juízes deixaram de ser a solução e tornaram-se parte do problema.
Habacuque sabe que somente Deus poderia mudar o curso da história, então ele clama, mas Deus parece não ouvir sua oração. É desalentador. Sentimo-nos assim com frequência. Oramos pela conversão de pessoas que amamos, e parece que elas vão afastando-se cada vez mais de Deus. Oramos por um avivamento, e temos a sensação de que o povo de Deus tem se tornado mais secularizado. Oramos para que a criação seja preservada, mas o que vemos é o crescimento da devastação do meio ambiente, a poluição das águas e do ar e o desmatamento de nossas florestas. Oramos pela nação, e o que vemos é o avanço da corrupção e da impunidade.
Depois de muito clamar, Deus responde dizendo: “Vede entre as nações, olhai, maravilhai-vos e desvanecei, porque realizo, em vossos dias, obra tal, que vós não crereis, quando vos for contada” (1.5). Em outras palavras, Deus disse a Habacuque o seguinte: “Você acha que eu não tenho ouvido suas orações, mas eu ouvi. O problema é que você não consegue entender o que eu faço. O que eu vou fazer é muito diferente do que você espera. É tão diferente que nem você será capaz de reconhecer. Deixe-me dizer-lhe o que estou para fazer” (1.6-11).
As coisas nem sempre são aquilo que parecem ser. Parece que Deus não ouve, mas ouve. Parece que ele não responde, mas responde. O problema de Habacuque – e o nosso – é que aquilo que esperamos nem sempre é o que Deus tem em mente. É possível que em suas orações ele clamasse por um despertamento espiritual, para que o povo ouvisse seus profetas e se arrependesse dos seus pecados. Mas nem sempre é isso o que acontece.
O que Deus tem em mente é muito diferente. Deus diz o seguinte (parafraseando os versos 6-11): “Eu vou levantar uma nação muito pior do que vocês. Se você acha que o povo de Judá se corrompeu e vem praticando toda sorte de violência, esta nação que marchará sobre vocês é muitas vezes pior do que tudo o que você já viu. Ela irá ajudá-los a reconhecerem quanto a soberba, a mentira, a violência, a injustiça e a falta de temor a Deus são destruidoras não só do indivíduo, mas também da família, da comunidade e da nação”.
Os caldeus eram um povo violento e poderoso. Não respeitavam nada. Criavam suas próprias leis e por onde passavam deixavam um rastro de destruição, sofrimento e morte. Eles não tinham temor de Deus e acreditavam que seu poder era o seu deus. Habacuque questiona essa maneira de Deus agir para com o povo da aliança. Como pode um Deus bom e justo usar um povo pagão, injusto e violento para disciplinar o povo santo de Deus? Não há nada maravilhoso naquilo que Deus revela a Habacuque. Agimos assim com frequência porque achamos que Deus não sabe fazer o seu trabalho tão bem quanto nós faríamos se estivéssemos no seu lugar. No entanto, Deus leva o pecado a sério. Clamar por justiça implica invocar o justo Juiz de toda a terra para que ele restaure aquilo que o pecado corrompeu.
Esse é o drama de Habacuque e o nosso quando nos deparamos com o sofrimento humano e o silêncio de Deus. Diante dos caminhos misteriosos de Deus, ele faz o que todos nós deveríamos fazer hoje: silenciar e esperar – “Pôr-me-ei na minha torre de vigia, colocar-me-ei sobre a fortaleza e vigiarei para ver o que Deus me dirá e que resposta eu terei à minha queixa” (2.1). Diante das crises humanas, precisamos deixar por um momento nossas reações passionais e olhar para a realidade com temor. Habacuque disse mais ou menos assim: “Não consigo entender nada do que está acontecendo, mas, em vez de ficar tagarelando sobre o agir de Deus, vou me silenciar e esperar para ouvir o que ele vai me dizer”.
O profeta inicia o livro clamando para que Deus faça alguma coisa. Depois do silêncio e da espera, ele ora novamente: “Tenho ouvido, ó Senhor, as tuas declarações, e me sinto alarmado; aviva a tua obra, ó Senhor, no decorrer dos anos, e, no decurso dos anos, faze-a conhecida; na tua ira, lembra-te da misericórdia” (3.2). Sua oração é uma viagem ao passado lembrando o que Deus já havia feito. Lembranças que não poderiam ser questionadas, pois eram testemunhos históricos. Ele se lembra do Egito, das aflições no deserto e de tudo o que Deus fez para guardar e salvar seu povo. A memória do passado nos ajuda a olhar para o futuro e ter paciência no presente.
No lugar da desolação e da angústia, surge o desejo de que Deus realize sua obra trazendo a vida de volta a Judá, quebrando o orgulho e a soberba do povo, mesmo que para isso eles tenham de passar por uma terrível provação. Ele clama a Deus para que na sua ira ele não se esqueça da sua misericórdia.
O final da oração é simplesmente impressionante: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me faz andar altaneiramente” (Hc 3.17-19). O cenário não mudou. O que Deus disse que iria acontecer, aconteceu mais tarde. No entanto, alguma coisa mudou em Habacuque e a oração de lamento no início do livro deu lugar a uma confissão de esperança, alegria e segurança em Deus.
Não sabemos quanto tempo irá durar a pandemia. Não sabemos quais mudanças virão. Não sabemos quando iremos voltar a nos encontrar e nos abraçar. No entanto, é possível encontrar alegria, esperança e segurança em Deus. Lembre-se dos feitos do Senhor. Releia a Bíblia. Veja como o povo de Deus se comportou em outras épocas de pandemias, guerras e pestes. Ainda que tenhamos de passar por terríveis provações, o Senhor Deus é a nossa fortaleza e faz com que os nossos pés caminhem pelos lugares altos. Que nestes dias de desolação Habacuque nos abrace e nos console!
Por Ricardo Barbosa de Sousa– texto extraído da revista ultimato Nº 389
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